Procê dizer sei lá o quê das flores.
Ela pintou de Van Gogh a esquina do medo. Quinze anos e primeira giletada no estômago — primeira hoje. Amarelo nem sempre é cor que sai depois disso. Van Gogh pintava um céu com os olhos que ela teria a cada nova giletada, fosse onde fosse. Quantos capados por ela! A mais amarela, amar ela, mas amarela; cada deles quem viu, viu. Diziam alguns que ela tomou dois tiros no mesmo dia, “se fosse pra polícia matar teria feito o serviço direito”. Iriam matar ela por ter quem se importa com quem fode com quem; ela iria morrer de bandida que é; apagariam-na mais cedo ou mais tarde; essa daí num morre aqui, o dia que num soubermos mais dela vai ser que ela se foi daqui, não de tá morta; ela já ferrou com muita gente; ninguém toma tiro atoa não; ela sempre foi tão viva …; …, Pra uns linda, pra outros monstra, praqueles assassina. Pra você, preta ou branca. Para outros, puta. Para ninguém, mãe. Para si, ela era o que podia saber de seguro: assim.
Tá viva até hoje por pródiga no saber que só estamos onde estamos.
Foi aprendendo a amar por conveniência até o dia que pôde largar mão, agora podia começar a sê-la ao modo aceito de não ser.
Da gilete à gerência, ela jamais cortaria a própria orelha. Viveu em mutilação densa, na qual a ação é única ferramenta. Cada escolha era sempre um aperfeiçoamento, uma definição; nunca houve retoque ou guardar em gavetas.
Se você pudesse condensar a vida dela em palavras, não fugiria dessas: “A câmera matou a tinta”; “A foto de um fotógrafo morto só pode ser tirada por outro”; “Nada escapa ao realismo”.