Rede Social de 2031. (ou “Jamais conheceremos um mundo onde não se disputem assentos”)

Tinha um amigo que sabia de cor umas coisas estranhas. Ele iria viajar, arrumava as malas quando a porta abriu:

- Que porra é essa??!!!!

- Vou viajar.

- E eu?!

Amava demais pra dizer que esse troço de só se esfregar com recém-conhecido era incompleto e cumulativo. As pessoas se dispunham a isso de formas distintas e o pudor está bem mais em alta que pregam os pastores.

Ele precisava do gozo para aquele respeito contido no desprezo mútuo que sentem os envolvidos em qualquer troca bem realizada, para deixar bem claro pra ele mesmo o motivo de estar ali com alguém estranho. Considerava um encontro efusivo entre amigos que não se veem há muito tempo e se encontram em movimentado calçadão não apenas uma ignorância perante todos aqueles que passam por você pela última vez, como também um desprezo completo.

Ele tá pensando em todo aquele pudor do telefone que exige a disposição do lugar, bem pior que o já ruim encontrar na porta do cinema ou mesmo no banco da praça, por conter o subpudor do pudor encontrado por eles quando se conheceram e um, ou só um, provavelmente ele, pegou o telefone do outro meio que confirmando o pudor que, diferente do outro termo ali, é mais uma coisa bem imposta da outra pessoa, não dele, ele é meio que uma marreta e qualquer pudor uma coisa a ser marretada. Embora ainda telefone e o banco da praça continue sempre a ser um lugar interessante caso esse pudor lhe atraia, o que em duas ocasiões resultou naquela peça pregada onde se explicita a maior densidade-intensidade da paixão perante o amor e mais ainda o quanto a promessa de dor e sofrimento é a única que pode ser feita sem ingenuidade, não somente pelo grau de entrega. Nem era isso umas das mais evidentes percepções das incontáveis que vinham por menos de segundo na cabeça dele. Isso veio bem leve numa espécie de catálogo que ele faz, talvez na cabeça mesmo, e veio quando ele quase arrumou um lugar nas confirmações que ele tenta fazer de que amor à primeira vista existe e é qualquer amor que nunca foi paixão: o amor que pode durar mais.

Alguém que você conheceu na noite anterior com o claro intuito de foder em um dia e bem… vocês viram o que aconteceu ali em cima, certo? Entrou gritando, como se ele tivesse comprado o pudor da noite anterior e sendo que eles nem foderam. Agora, se adicionar aos gritos um objeto de peso arremessado em sua direção que o acerte sem debilitar, tipo uma pancada que derruba, mas que dá pra levantar, ou um raspão que arranca sangue e o projétil explode na parede… Ele voava em cima, irão foder e será uma foda daquelas que se os dois expressarem aquele respeito no desprezo vai ser… Bem, vai ser um desperdício.

Mas, e aí, o que será que ele respondeu?

- Você pode tomar um banho se quiser e pode ir embora quando quiser até as seis, que eu viajo as nove e pra onde eu vou não passo por onde você vai.

Ah… se nem assim ele conseguiu uma pancada. Desiste né, isso aí não vai dar em nada. É melhor arrumar as coisas e dar uma carona pra esse poço de civilidade, tratando bem até a hora de deixar em seu destino.

Se ele já tivesse maturidade para isso eu ligava pra esse meu amigo agora, como quem não sabe que a ação dele está entre parênteses comigo vendo tudo daqui, e diria pra ele deixar tudo arrumado e tentar que eles fodam até chegar a hora de ele ir viajar e que, fosse a foda que fosse, ele não poderia se apegar. Mesmo que no ápice do ápice deveria não se atrasar, pois se passar aqui em casa muito tarde não chegaríamos a tempo de um mergulho ainda hoje e eu tô precisando.